Estereótipos e resistências indígenas

agosto 12 2019 19:55

Matéria escrita por: Profª Natália Spinelli

Embora muitas mudanças tenham ocorrido em relação à temática indígena com a lei nº 10.639, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, ainda nos deparamos com algumas interpretações que, de algum modo, preservam e disseminam estereótipos que devem ser desconstruídos .Percebe-se que, habitualmente, os indígenas são vistos como” parte intacta” da História, não os considerando como agentes  históricos e, portanto, sujeitos a transformações. Joana Fernandes, em seu livro “Índio- esse nosso desconhecido” faz apontamentos quanto a essa problemática:

” Para alguns, o índio é selvagem, cruel, traiçoeiro. Para outros, ele é um ser puro, impregnado da inocência das crianças. Os que acreditam na sua   pureza, idealizam-no, enquanto os que acreditam na selvageria, os temem índios. Em ambos os casos, a imagem construída a respeitos dos povos indígenas é baseada em estereótipos, ou seja, ideias falsas que igualam e colocam sob um mesmo rótulo um sem número de situações diversas. O índio “ideal” deve ser forte, bonito, deve andar nu, não pode falar português, não deve gostar de óculos escuros, nem beber Coca Cola. Deve, ainda ter lindos dentes, andar com o corpo pintado e enfeitares com penas. Esse é o “índio de verdade”. Saindo desse padrão imaginário, criado muito distante de toda a complexidade de inúmeras   situações a que são submetidos os povos indígenas brasileiros, os índios conhecidos não são “índios de verdade”, ou então são “índios civilizados”, “índios aculturados” (FERNANDES,1993.p.15)

 No século XVI, no recôncavo baiano, constantemente, havia a ressignificação de aspectos culturais ensinado pelos jesuítas na chamada santidade de Jaguaripe, assim como também no século XXI, por  meio de Benilda Vergílio estudante de design que utilizou grafismos específicos de sua etnia kadiwéu para organizar um desfile de moda em Bodoquema ( MS). Fica evidente que, apesar das rupturas históricas e embora os contextos sejam diferentes, há resistência nos dois casos quanto a preservação de identidade, memória e aspectos culturais indígenas. Devendo ser considerado, dessa forma, as trocas culturais e processos de interculturalidade.

Ademais, segundo dados do IBGE de 2010 existem 896.917 povos indígenas. Dessa forma fica inviável não pensarmos em especificidades. Ao abordar a culinária por exemplo, é comum a menção da mandioca e peixe como alimento típico, sem considerar que dependendo da região habitada essa alimentação varia. Para o povo Xavante do Mato Grosso do Sul, por exemplo, a mandioca só é implementada por meio da farinha de mandioca após o contato com missionários, os chocalhos divergiam quanto à sonoridade devido à quantidade e tipos de sementes utilizadas na confecção, como é o caso dos povos Kaingang e Guarani. Tais informações são meros exemplos se comparado à enorme diversidade étnica existente no Brasil.

É também primordial atentarmos para a diversidade linguística indígenas existente e enfatizarmos que muitas encontram-se ameaçadas. Agravante é a situação, pois as diversas línguas constituem a identidade social de um povo (especifico de cada etnia) e   identidade cultural e nacional quanto uma história compartilhada do Brasil.

Concluo então, propondo uma reflexão e questionamento, se realmente há valorização de diversidades culturais de forma efetiva, se realmente temos fomentando o conhecimento dessas culturas indígenas com a devida atenção.

É de extrema urgência prezar por diversidade e memórias, muitas vezes silenciadas e ocultadas.

E você, o que tem feito?

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